A Clareira • Local Público •

Ensolarado/Frio•Tarde•Roupa

Designer - Milla

Ensolarado/Frio•Tarde•Roupa

Ravyn ouviu som de passos se aproximando. Sacou sua Espada e apontou-a na direção do som para, só depois, olhar. Viu uma menina bonita e com cara de angelical. Reconheceu-a do chalé de Hermes. Não sabia se ela havia sido reclamada ou não. Embainhou a Espada e se levantou, mostrando as mãos vazias em sinal de que não atacaria-a. Em tom normal, com um pouco de "desculpas", falou, olhando-a nos olhos:

- Desculpe-me, foi reflexo. Sou Ravyn Ollicourt, filho de Atena... Te conheço de algum lugar?


O filho de Atena adicionou a pergunta espontaneamente, porém ainda não falou que era Campeão de Hera, pois, com certeza, essas palavras não sairiam no tom correto. Esperou a resposta da semideusa com um pouco de curiosidade.

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– Não se preocupe, errm... Garoto. A sua felicidade por me ver aqui é completamente recíproca, acredite.
Ravyn observou, para si mesmo, que ela parecia ser legal, não parecia ser do tipo dos outros filhos de Hermes, que só roubam. Lembrou-se de que o Pai da menina à sua frente era deus da Diplomacia também. Viu-a sorrindo, o gloss em seus lábios chamando atenção. Sorriu de volta, encarando-a com seus olhos cinza, e falou, após ela rir:
- Bem, vim aqui para me esconder dos meus meio-irmãos. Recentemente estive em uma missão e eles me enchem de perguntas. Respondi algumas e... fugi para cá, para relaxar. E você, Ágata?
Realmente estava um pouco curioso. Esperava não encontrar ninguém ali, afinal o local era calmo e no meio da Floresta. Tentava ser carismático com Ágata, uma menina bonita que aparecera para ele. Afastou o pensamento da beleza, lembrando-se do ditado que falava "Não julgue o livro pela capa.". Conheceria-a melhor antes de fazer qualquer observação do tipo "Patricinha", "Chata", "Ladroa", etc. Só então notou que comentara de sua missão e talvez a filha de Hermes perguntasse sobre ela. Decidiu que responderia com um sorriso no rosto, tentando não passar soberba ou qualquer sentimento de superioridade.

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– Eu não sou... Bem sociável, eu acho. Não gosto de falar, mais estou falando. Eu não costumo falar muito, mais quando começo a falar não paro mais. Se considere a primeira pessoa a quem dirijo a palavra por vontade própria neste acampamento idiota.

Ravyn suspirou ao perceber que, pelo jeito, ela não perguntaria da missão. Sorte a dele. Porém sentiu-se importante por ser o primeiro com quem ela falava em livre e espontânea vontade. Balançou a cabeça, afastando esse sentimento. Observou Ágata enquanto ela andava em círculos enquanto pensava no que falar. Esse era um problema do filho de Atena: Ele raramente deixava os sentimentos falarem mais alto, sempre levava as coisas para o lado racional. Por fim, após algum tempo, olhou para o chão e com um sutil, quase escondido, sorriso em seus lábios, falou, escolhendo bem as palavras.

- Bem, você não se parece muito com os seus meio-irmãos. Normalmente eles só peçam em roubar e roubar, sem contar que falam demais. Devo confessar que fiquei lisonjeado com a informação de que sou o primeiro com quem você fala espontaneamente. - Só então lembrou-se de que ela não reagia muito bem ao seu jeito mais culto de falar. - Se eu estiver falando muito formalmente e quiser que eu mude, só avise. Como você disse, não gosta muito do Acampamento. Por quê? É por causa de alguém? Ou é por que não está gostando da vida de meio-sangue?

O semideus percebeu que estava entrando mais para o lado pessoal dela. As palavras já haviam sido ditas. Tentara selecionar bem elas, porém não sabia muito da semideusa à sua frente para saber se o que foi perguntado de alguma forma magoaria ela. Não queria isso, porém estava andando no escuro. A qualquer momento poderia pisar em uma mina. Aproximou-se de Ágata ao terminar de falar, olhando-a nos olhos, tentando passar confiança para ela.

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- Ravyn, Ravyn... Oh mesmo garoto de sempre. Aliás, creio que sou uma das poucas das filhas de Hermes que não precisa sair por ai roubando, isso e um tipo de dom ou algo parecido o usar aqui seria desnecessário. Aqui é realmente irritante, é como prender uma lebre selvagem.

O tom sarcástico com o qual ela falava aquilo destoava de seu sorriso. Por um momento, o filho de Atena refletiu sobre o que Ágata falou. A filha de Hermes falava como se já conhecesse ele, de alguma maneira. Forçou-se a tentar lembrar, porém sem sucesso. Com a cabeça, procurou a semideusa, que estava em cima de uma árvore, e tornava a falar, sem olhar para ele.

- Deve ser estranho ser filho de Atena... Digo, ser julgado um “CÊ-DÊ-É-FÊ” o tempo todo. Mais é estranho ser filho de um Deus.

- Do mesmo jeito que não deve ser bom já ser tachada de ladroa só por estar no chalé de Hermes, o que eu tenho certeza que você não é... Pensando bem, realmente é estranho ser filho da Deusa da Sabedoria. Ser neto de Zeus. Deuses que, nas escolas humanas, se trabalha como se fossem maluquice dos Gregos e, de repente, aparecem na nossa vida num piscar de olhos...

Ravyn falava olhando para Ágata, contemplando-a, tentando perceber reações dela. O seu tom estava calmo, apesar de estar um pouco confuso dentro de sua cabeça. Acabou por finalizar, em um tom mais inseguro, afinal não sabia o que a filha de Hermes faria:

- Ágata, como tu descobriste que era semideusa, filha de Hermes?

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- Não... É algo que se queira realmente saber, isso é... Particular, não me leve a mal.

Após ela falar isso, Ravyn já se arrependeu. Percebeu que seus olhos começaram a brilhar e que, logo após, ela passara a mão ali. Eram lágrimas. O filho de Atena tentava tomar cuidado para que isso não acontecesse, porém ele se passou.

- O passado me condena, entende?

A filha de Hermes falou em um tom irônico, mas isso não acalmou o semideus, que se aproximou e, cuidadosamente, colocou a mão direita em cima do ombro esquerdo dela, para confortá-la. Com voz embargada, falou:

- Entendo sim. Desculpa tocar nesse ponto, Ágata, eu me passei... Não quero te fazer passar mal, nem fazer você chorar. A pergunta que te fiz foi muito espontânea, eu já devia ter percebido que você não queria falar disso... Me desculpe.

O campista olhou para o chão e apertou um pouco o ombro da outra, para ele próprio não chorar. Essa era outra característica dele: Sentia-se mal sempre que fazia os outros se sentirem mal. Sentiu lágrimas virem aos olhos, ele puxou-as para a boca pelas vias linfáticas do rosto, coisa que sempre fazia. O próximo passo seria cuspir, só que não seria educado, então ele engoliu as lágrimas, de gosto amargo. Pigarreou, limpando a garganta, e voltou seu olhar para Ágata. Provavelmente não conseguiria esconder sua preocupação dela, mas não se importava. Lembrou-se de seu próprio caso, o dia que apontara uma faca para o pai, ameaçando-o de morte. Afastou os pensamentos antes que as lágrimas voltassem e, com a voz um pouco trêmula, falou:

- Pensando bem, eu também não falaria da minha história...

Ravyn não conseguiu falar mais. Pressionou um lábio contra o outro e ficou em silêncio, olhando para Ágata, uma semideusa que também tivera dificuldades, como provavelmente a grande maioria do Acampamento.

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- Afinal... Ninguém aqui é perfeito.

Ravyn percebeu que ela se encolhia, mexendo na sua mão. Praticamente não havia percebido que ainda deixava a mão ali, e a retirou, um pouco ruborizado. Olhou para o céu, e refletiu em voz alta:

- Realmente, ninguém é perfeito.

"Nem eu", completou ele em pensamento. Percebendo o silêncio que se formara, aproveitou para refletir um pouco. Enquanto olhava para a semideusa anteriormente, percebeu que ela não estava muito à vontade em estar com ele. Por um momento, o filho de Atena cogitou terminar por ali, mas notou que o desconforto dela em relação à ele apenas se tornaria uma constante. Nesse momento, percebeu que gostava dela, de algum modo. Não pela aparência - o que também não deixava a desejar -, mas pela pessoa em si. Pela personalidade. O semideus apenas pensava na possibilidade de confiar nela, de estabelecer uma amizade com ela, não mais além. Estando do lado dela, virou-se, ficando de frente para Ágata. Olhou para a menina, sorriu, para tentar passar confiança, e falou, em tom calmo e firme:

- Quer fazer alguma coisa? Digo correr, caminhar, ou apenas conversar...

Percebeu que novamente começava a falar demais. Calou-se, esperando a resposta da outra.

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